A saúde está mudando – e rápido. Um dos modelos mais discutidos nos últimos anos é o pagamento baseado em valor (ou Value-Based Healthcare, no termo em inglês). Esse modelo vem ganhando força como alternativa ao sistema tradicional de pagamento por serviço, no qual os hospitais e profissionais de saúde recebem por volume: quanto mais exames, consultas e procedimentos, maior a remuneração. Mas será que quantidade é sinônimo de qualidade?
A resposta é: nem sempre. E é aí que o pagamento baseado em valor entra como uma proposta mais inteligente, equilibrada e – o melhor – sustentável do ponto de vista dos custos.
O que é o pagamento baseado em valor?
Em vez de pagar por cada serviço realizado, o modelo baseado em valor remunera os prestadores de saúde de acordo com os resultados obtidos com os pacientes. Isso inclui indicadores como melhora clínica, redução de reinternações, controle de doenças crônicas e até o nível de satisfação dos pacientes.
Ou seja: o foco deixa de ser a quantidade de atendimentos e passa a ser a qualidade e a efetividade do cuidado.
Por que isso importa para a gestão de custos?
A lógica do pagamento tradicional gera, muitas vezes, um uso excessivo e desnecessário de recursos. Isso eleva os custos e, ironicamente, não melhora a saúde das pessoas.
Já o pagamento por valor incentiva o uso racional dos recursos, a prevenção de complicações e o acompanhamento contínuo dos pacientes, reduzindo internações, exames repetidos e tratamentos ineficazes. Resultado? Menos desperdício, mais eficiência e custos mais controlados.
Além disso, a adoção desse modelo estimula a padronização de processos, a integração entre equipes e o uso de indicadores de desempenho – práticas fundamentais para uma boa gestão de custos hospitalares.
Exemplos atuais do modelo em ação
Alguns países já estão mais avançados na implementação do pagamento por valor. Nos Estados Unidos, por exemplo, o programa Medicare Value-Based Purchasing, do governo federal, remunera hospitais com base em indicadores de segurança do paciente, experiência e desfechos clínicos.
No Brasil, o modelo ainda está em fase de expansão, mas já existem iniciativas promissoras. A operadora de saúde Unimed-BH, por exemplo, tem projetos de remuneração com base em desempenho em hospitais credenciados, considerando taxas de reinternação, tempo de permanência e uso de protocolos clínicos.
Outra iniciativa relevante é o Projeto Cuidado Coordenado, da Amil, que já conta com mais de 1 milhão de beneficiários. O modelo foca no acompanhamento contínuo dos pacientes por equipes multidisciplinares, com redução de custos e melhora nos indicadores de saúde, como controle do diabetes e hipertensão.
Tendências e desafios
A tendência é que cada vez mais instituições caminhem para esse modelo, não apenas por exigência de operadoras e governos, mas também por uma necessidade real de equilíbrio financeiro e melhora na qualidade do cuidado.
No entanto, ainda há desafios: é preciso investir em tecnologia da informação para medir e acompanhar os resultados, treinar equipes para trabalhar de forma integrada e mudar a cultura organizacional.
Outro ponto importante é a definição de métricas justas e transparentes, que levem em conta a complexidade dos pacientes e os contextos diferentes entre regiões e instituições.
Conclusão
O pagamento baseado em valor não é apenas uma tendência: é um caminho necessário para quem deseja manter a sustentabilidade da gestão hospitalar sem abrir mão da qualidade do atendimento.
Ao focar em resultados reais para o paciente, esse modelo contribui para a redução de desperdícios, melhora da eficiência e controle dos custos hospitalares – objetivos centrais de qualquer gestor que olha para o futuro da saúde com responsabilidade e inovação.
Agora é a hora de começar essa transição. Mesmo que aos poucos, as instituições que se anteciparem nessa mudança certamente terão uma vantagem competitiva – e um impacto positivo real na vida das pessoas.